Talvez em minha passagem eu tenha sido mais um
numero na sociedade, que com os seus papéis nos tornam vivos ou mortos, mas que
molham e queimam. Talvez mais um instrumento de ossos e carne que sangra e no
final se desintegra como tudo que é vivo e segue em passos errantes. Talvez em
minha transição eu tenha enfeitiçado alguns rapazes, motivado inveja ou eu
mesma sentido cobiça, a rotina é cheia dessas infantilidades, mas tudo se
ausenta, assim como as nuvens que trazem chuva. Talvez tenha sonhado com outras
vidas, porque nunca conseguimos imaginar a dimensão que o destino é, onde ele
nos leva, é sempre assim, pra todos, sem exceção. Sonhamos histórias, vivemos
histórias e sem perceber começamos a contar as nossas próprias experiências. A
vida inteira observando o tempo passar, e quando fico de frente ao espelho
percebo que o tempo de mansinho sempre me trapaceou, fecho os olhos por um
momento e lá vai ele me levando alguns anos, tão preciosos, e não há nada que
os traga de volta, sem feitiço ou poço da juventude, viver é bem mais
interessante que um conto de fadas, e também é assim pra todo mundo, sem
exceção, todas as histórias podem ser atraentes.
Parada no ponto de ônibus, afastando um pouco
mais as horas da minha juventude um velho sábio me disse: Se a minha vida lhe
parece mais simpática, é porque a sua história, minha pequena, não soube
contar.
Lembrando-me desta frase, mudei as minhas
percepções, mas já é tarde demais, como tudo que queremos na vida e deixamos
pra depois. Queremos viver outras épocas, ter conhecido outras pessoas, outros
lugares, e esquecemos de desembrulhar o presente que é o presente. Não virei
conselheira por estar velha, só estou de passagem mesmo, só quero lhe dizer,
que foi uma pena não ter te conhecido pessoalmente, pois, se tem algo que aprendi
em todos esses anos bem e mal vividos é que qualquer afinidade tem um poder
infinito.
Ah, e se eu tivesse apenas um conselho para lhe
dar seria: esqueça todos os conselhos e viva sua vida. Ela é mais intensa que
palavras. Mas de qualquer forma, é tudo caretice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário