Exausto ele estava de levantar as suas
mãos para os céus e pedir perdão pelo que o seu corpo não sentia, somente
desejava. As crianças que corriam pelo saguão, principalmente os meninos, os
provocavam em sua inocência. Todo o antepassado de sua história o acalmava e
trazia coragem como se possuí-los fosse uma maneira certa de honrar os tecidos
negros de suas batinas. Sua vontade estava tão clara quanto à hóstia que
empurrava goela abaixo na garganta dos fieis com a promessa de um mundo sem
vaidade e ambição, logo em seguida ansiava pelo dizimo. Naquele universo
paralelo distante dos pecados mundanos ele era o dono da razão, o argumento que
não podia ser retrucado, para os mais fracos a voz de Deus usando a sua boca
para trazer harmonia para os necessitados. Então veio a sedução, o primeiro
passo, tão fácil como trair cristo por 30 moedas, a noite tinha que cair, o
silêncio tinha que estar presente para que a primeira alma pura recebesse sua
benção, assim ele havia tratado. Não demorou. Todos os dias as horas são
iguais. A porta do começo dos seus segredos se abriu, algumas palavras foram
ditas, algo foi posto para beber e os sussurros começaram. Ali se estreou uma
infindável rotina de prazer, o lacrimejar e o sangue escorrendo pelas pernas
miúdas acrescentavam ainda mais encanto a sua loucura sã. A igreja sabia o que
os devotos nunca desconfiaram e assim, os anos se passaram até a sua velhice
chegar, não veio o arrependimento. Era mais fácil o seu Deus perdoar um pecador
que orava do que um santo pobre ateu.
E eu me tornei reflexo do que a
infância me ensinou, e não seja tolo ao pensar que é algum tipo de vingança, os
caminhos que me instruiu, pedra por pedra é uma obra divina. Aguardo o badalar
do sino, esqueço o passado, faço o sinal da cruz e levo paz aos que imploram
piedade.