Eles vinham marchando em
bando rumo à cidade grande. Fortes homens quase nus, com a exceção dos pequenos
trajes cobertos por penas coloridas. Bem preparados, armados com fé e coragem. Chegavam
cantando em coro dispostos a enfrentar o seu pior inimigo, o monstro branco da
metrópole. Organizados, belos e em simetria assustavam a civilização que
finalmente depois de onze meses praticando o mesmo exercício durante dez horas
ao dia conseguiriam sair da rotina. O showmício estava a dois quarteirões, e
unidos seguiram em frente. O primeiro alvo, foi o senador R.B., o mesmo que
estava na linha de frente a favor das industrias elétricas, com uma flecha atravessada caiu de olhos
abertos no chão, o bote já tinha sido organizado, e as flechas voavam por todo
o centro da cidade, deputados e vereadores sangrando como vaca no abatedouro,
naquela tarde a policia federal continuava a sua greve por um salário mais
justo que os seus doze mil reais mensais e a civil estava muito ocupada com
algum tipo de corrupção que os próprios cadáveres tinham permitido acontecer. O
cacique D. dominou o palanque e começou a se manifestar, “Os brancos escrevem
sobre amor em seus livros, em seus muros, e em seus equipamentos modernos, mas
esquecem de praticá-lo. Falam sobre sustentabilidade, mas compram o que não
precisam consumir. Mandam seus filhos as escolas para que possam estudar sobre
os índios, mas o que dirão a eles quando perguntarem porque estamos em
extinção?”, as palavras iam e vinham e depois de algum tempo o governo havia
sido tomado pelos índios. Prédios comercias foram demolidos, e arvores
cresceram no lugar, os veículos se tornaram desnecessários. Para evitar à crise
as pessoas começaram a cultivar os seus próprios alimentos a costurar suas
próprias vestimentas. Eu te contando você não acredita. A ambição das pessoas havia
desaparecido, parece que colocaram uma espécie de união no lugar. O último
discurso do cacique D. dizia ter sido uma pena tomar de volta a terra deles com
sangue, mas que não aguentava mais perder os seus meninos pra fome e suas
meninas pra prostituição. Ouvi falar que vão dominar por aqui em breve, que
assim seja, por que eu não aguento mais ver as pessoas morrerem por causa de
papel.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
O arrependimento de Dona Benedita.
Talvez em minha passagem eu tenha sido mais um
numero na sociedade, que com os seus papéis nos tornam vivos ou mortos, mas que
molham e queimam. Talvez mais um instrumento de ossos e carne que sangra e no
final se desintegra como tudo que é vivo e segue em passos errantes. Talvez em
minha transição eu tenha enfeitiçado alguns rapazes, motivado inveja ou eu
mesma sentido cobiça, a rotina é cheia dessas infantilidades, mas tudo se
ausenta, assim como as nuvens que trazem chuva. Talvez tenha sonhado com outras
vidas, porque nunca conseguimos imaginar a dimensão que o destino é, onde ele
nos leva, é sempre assim, pra todos, sem exceção. Sonhamos histórias, vivemos
histórias e sem perceber começamos a contar as nossas próprias experiências. A
vida inteira observando o tempo passar, e quando fico de frente ao espelho
percebo que o tempo de mansinho sempre me trapaceou, fecho os olhos por um
momento e lá vai ele me levando alguns anos, tão preciosos, e não há nada que
os traga de volta, sem feitiço ou poço da juventude, viver é bem mais
interessante que um conto de fadas, e também é assim pra todo mundo, sem
exceção, todas as histórias podem ser atraentes.
Parada no ponto de ônibus, afastando um pouco
mais as horas da minha juventude um velho sábio me disse: Se a minha vida lhe
parece mais simpática, é porque a sua história, minha pequena, não soube
contar.
Lembrando-me desta frase, mudei as minhas
percepções, mas já é tarde demais, como tudo que queremos na vida e deixamos
pra depois. Queremos viver outras épocas, ter conhecido outras pessoas, outros
lugares, e esquecemos de desembrulhar o presente que é o presente. Não virei
conselheira por estar velha, só estou de passagem mesmo, só quero lhe dizer,
que foi uma pena não ter te conhecido pessoalmente, pois, se tem algo que aprendi
em todos esses anos bem e mal vividos é que qualquer afinidade tem um poder
infinito.
Ah, e se eu tivesse apenas um conselho para lhe
dar seria: esqueça todos os conselhos e viva sua vida. Ela é mais intensa que
palavras. Mas de qualquer forma, é tudo caretice.
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